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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ceifeira (a um quadro de Silva Porto)

( imagem tirada da net)
Silva Porto (1850-1893) foi um pintor português a quem é atíbuído o início do naturalismo em Portugal. "Usou" a natureza como principal motivo de inspiração. Daí que de muita cor e luz se encham as suas telas.

Da primeira vez que vi trabalhos dele, este particularmente que se chama "As Ceifeiras", escrevi o poema que aqui deixo hoje.


De ti se agarra à terra
A seiva feita suor
Do corpo que sobre a terra dobras
Cortando o trigo
Ceifando até à última espiga
Duramente
Debaixo desse sol que te castiga

Por ti escorre a água
Que do céu cai
E te encharca até à alma
A água
Acompanhada por esse vento
Que em força te fustiga

Na terra
Se concentra o pó e a água
Que enquanto trabalhas
Se te cola aos pés
Comprometendo-te para a vida

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"A jeito de homenagem a Eugénio de Andrade"

"Improviso
Uma rosa depois da neve.
Não sei que fazer
de uma rosa no inverno.
Se não for para arder
ser rosa no inverno de que serve?"
Este é o poema do Eugénio que serviu de inspiração a quantos, a pedido do Dr. Montezuma de Carvalho, resolveram homenagear o Poeta por ocasião do seu 80.º aniversário. Os trabalhos foram publicados no jornal "O Primeiro de Janeiro" no Porto e posteriormente em livro. Este de que aqui deixo a capa.
Abaixo ficam os poemas com que eu própria participei.

E a esperança, Poeta?
O Poeta não sabe
o que faz uma rosa no Inverno?
- E a esperança, Poeta?
Se tu não sabes...
O que é que vamos fazer?
A quem vamos exigir a resposta?
Qualquer inverno será menos frio
menos cinzento
com uma só pétala que seja
de qualquer rosa

Pétalas caídas
Nasceram-me asas
Para quê?
Não posso sair daqui!
Caem-me as pétalas
Estou a secar
Até já penso que morri
Se já não sequei
Deve ser por ti

Rosa de Inverno
Sigo as pegadas
Na neve
Que os teus passos aqui deixaram
ao de leve
Junto às tuas
As marcas dos meus pés
Vou ao encontro do teu perfume
Rosa de Inverno que és
Aquecer-me-ás no teu lume

Rosamor
Tenho uma rosa no peito
Deixei que aqui a fixasses
Convencida que era amor
Nasceu
Floriu
Ganhou cheiro e deu-me cor
Agora quero mantê-la
Seja essa rosa o que for

Marcas
No chão de neve
de que se faz o inverno
do teu ser
o frio
do teu sentir
há pétalas espalhadas
marcas
para eu te ver
para eu te poder seguir

Compensação
E as pétalas
deste caule - meu corpo?
Ficaram-se pela neve
que cobre o caminho que percorro
para alcançar-te.
O frio de se tem feito a minha viagem
compensa-te em ti
no calor de abraçar-te