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sábado, 4 de julho de 2009

Sobrou-Te o Corpo

(Este trabalho, poema e foto meus, foi publicado há algum tempo por mim num blog colectivo. Agora resgato-o para o meu próprio espaço que é aqui o seu lugar. A foto foi feita em Dezembro de 2007 no atelier do Cutileiro e o poema "em cima da foto". Gosto destas inspirações!...)

Sobrou-Te o corpo
que a Alma
essa
foi-se
Sobrou-Te o corpo nu
A Alma vestiu-se das tuas roupas
roubou-Te os olhos
as mãos
e por Teus pés
se fez à vida
Adiante! disse.
(por tua boca que fez sua)
deixando-Te o corpo aqui
Depois de Ti
depois de teres acontecido
ficaste assim
assim pedra esquartejada
assim utensílio abandonado
depois de teres acontecido
ficou-Te o corpo sobrado

44 comentários:

antonior disse...

Lembro-me de te ver a fazer esta fotografia.....parece que não passou ano e meio!

O tempo vai montado numa máquina de ilusão como se de um cavalo se tratasse e nós perdemo-nos nos ritmos do seu andamento.

E assim, a um tempo, do tempo, vamos dançando com o espírito ( dizes alma, não é?) e, de cima, vemos, sem olhos, os nossos corpos cansados, vestidos da pedra que lhes pesa, parecendo desconjuntado. Não está, simplesmente cada músculo hirto, dá uma posição rígida e estranhamente despojada, abandonada.

Mas as nossas almas (espíritos, direi eu?!) dançam uma valsa eterna por galáxias sem firmamento.

Um beijo, com amor

Maria disse...

Girassol:
Bela foto, belissimo poema.
Quando estive em Évora, fiquei num hotel mesmo em frente à casa do Cutileiro. Fartei-me de rondar, tentei espreitar e não consegui vê-lo. Disseram-me que pouco sai de casa e que está muito velhinho.
Os génios também envelhecem, mas não morrem. Vivem através da obra que deixam.
Continua, amiga. Virei espreitar sempre.
Beijinhos de cá para aí.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Forte escultura chegada pelo teu olhar de poeta e de fotógrafa!
cordialmente
________ JRMArto

Unknown disse...

A beleza do espírito, causa admiração; a da alma, estima; e a do corpo, amor.

Beijo.

Lídia Borges disse...

Muito consistente o conjunto.
Uma bela imagem e as palavras ilustram-na, de forma magnífica.

Gostei muito.

Isabel disse...

...que bom ....o meu amigo j.cutileiro,,,,aqui....tb caranguejo(fez anos no passado dia 26) e ontem inaugurou uma exposiçºao no Crato...

o homem que corporiza na pedra e corpo da alma.



beijo.


encantada.


(piano)

João de Sousa Teixeira disse...

Pois fez muitíssimo bem!
É trágico e verdadeiro.Curiosamente, não é menos belo por isso.
João

poeta_silente disse...

Girassol.
Que fantástica a poesia que te veio como inspiração desta maravilhosa peça. Que sensibilidade à flor da pele, o fato de tirar esta bela foto.
Pois, querida, quantos zumbis passam por nós, dia a dia, a serem corpos sem alma, sem sentidos e sem sonhos. Quantos e quantos imitam um sorriso, sem saber o que de fato gera um verdadeiro sorriso.
A paz, o amor, o perdão, a concórdia, a ação em favor - e não contra - , o estar em constante renovação, acreditando que nada do que passamos é fugaz - e que tudo teve seu exato papel e exato sentido, no tempo certo.
O acreditar no outro. O ser...
Tudo isto está morto para a maior parte das pessoas. Estas que vês a correr pela rua - sem alma. Apenas corpos desnudos, triturados pelo tempo e pelo sofrimento. Desmanchados e sem estrutura. Corpos mortos, que vivem como fotografias do tempo e do espaço utilizado. Nada mais.
Ser corpo e alma transcende nosso pequeno mundo interior, transcende nossa compreensão do tudo. Ser corpo e alma, é um mistério apenas compreendido pelo sentir. Apenas sentido pelo crer.
Ser corpo e alma... é mais que o hoje, é mais que nosso mundo interior e imediatamente exterior. Ser corpo e alma é eternizar nosso perceber do outro através da compreensão do TODO e do movimento que nos faz viver "em", e não viver "para".
Ser corpo e alma, querida, é uma arte. Difícil de aprender. Mas satisfatória de viver.
Deus os abençoe.
Miriam

O Encapuçado disse...

Ah, falas com as pedras que sobram de corpos de mulher, moldados pela mão do homem, mas quantos corpos de mulher de carne e osso, ficam também assim; ás mãos do homem?...

Tenho por hábito falar com as pedras, dos Mosteiros, Monumentos, quando transformadas em qualquer coisa, e falo com as mãos que as trabalharam, e as mãos de quem carregou aquelas enormes pedras para o lugar onde estão hoje!...

Mas que sensibilidade a tua, que vês poesia em tudo o que os teus olhos contemplam..Belissimo momento que aqui passei.
Beijinhos a todos, laura.

Graça disse...

Maria,

Que conjugação perfeita, neste "verbo" esculpido a palavras tuas...

Gosto de vir respirar estes ares de beleza pura, no teu espaço.

Um beijo

vieira calado disse...

Mas as pedras, amiga,

perduram para além de nós,

dos nossos corpos...


Bjs

Osvaldo disse...

Oi, Maria;

Esta foto, aliada ao poema, faz pensar que por mais Castelos que construa-mos, mais pedras sobrarão após o nosso fim e sobre esse fim uma pedra pousará como a testemunhar que como as pedras também nós viemos da terra e à terra voltaremos para quem sabe darmos vida às pedras...

bjs,
Osvaldo

lili laranjo disse...

Passei e deixo um beijo


CHEGUEI...

Cheguei aqui e parei...
Cheguei aqui e sorri...
Sorri com muita força...
Pois sei que aqui sou eu...

Aqui paro e escuto...
E sei que escuto o que eu gosto
E sinto o carinho que me cerca
E sei que é um querer de verdade...

Porque aqui...eu estou...eu fico...eu sou!...
E quando a amizade é de verdade...
Eu cresço e fico muito maior...

É por isso...
Que eu sou pequena...
Mas muitas vezes...
Me sinto "grande"-

Lili Laranjo"Reticências Apenas"

Patixa disse...

Já tinha tido oportunidade de ver este conjunto no blog colectivo que falas. Precisamente a mesma sensação... Bela a foto, Grande o poema! Relata aquilo que muitas vezes sentimos, ser apenas um corpo que a alma deixou para trás abandonado...

Bjokas grandes

mariabesuga disse...

ANTONIOR
Pois meu amor se ambos "passeámos" pelo atelier do Cutileiro fotografando a ele e às peças por ali à nossa dospisição... Interessante também a conversa a que se prestou. Muito interessante a abertura para nos receber.

Falamos de Almas, de Espíritos... nossas Almas... Nosso Espírito... que deixamos por conta do feitiço a que nos entregamos... corpos cansados à espera da recuperação precisa... Conseguida! Dançamos!...

O meu beijo sempre

mariabesuga disse...

MARIA
Minha Amiga estar no atelier do Cutileiro é fantástico. Ele deixa-se fotografar e conversa das suas obras e dele próprio de forma descontraída. É muito interessante.
Sabes, Maria, não acho que esteja assim... velho, naquele sentido pesado... Está bem para a idade e aquele tipo de trabalho também é desgastante.
Mas é fantástico entrar naquele espaço e ver a forma organizada como estão todas as ferramentas necessárias. Tudo preparado. E os trabalhos acabados e em acabamento mais ou menos adiantado.
Tem por ali espalhados restos e sinais da obra que fará que não morra, como dizes.
Beijinho Maria para vocês.

mariabesuga disse...

VAANDANDO
JMarto obrigada!... Forte, como diz, a escultura do Cutileiro. A fotografia é só um reflexo disso e o poema a inspiração que se deu quase de momento.
Um abraço

mariabesuga disse...

MANUEL MARQUES
O efeito da minha admiração está no poema inspirado no corpo pedra... De resto a beleza estará em quem aprecia uma peça e outra, o corpo pedra e as palavras...
Um abraço de portugal de que deve ter saudades

mariabesuga disse...

LÍDIA BORGES
Lídia a consistência das palavras é mérito da peça escultórica ou, neste caso, do que resta dela.
Obrigada
Um beijo

mariabesuga disse...

ISABEL
É verdade Isabel... Foi muito bom o encontro com o Cutileiro, com as suas peças, com a descontração das suas palavras.
As peças são a expressão da plenitude do amor, corpo, desejo... a vida! E ele a força de 72 anos neste tempo criando sempre, sempre...
Um beijo, Isabel e Obrigada

mariabesuga disse...

JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA
... ou o quanto do trágico se pode... ver... belo. O João viu.
Um abraço João

mariabesuga disse...

POETA SILENTE
Minha querida, no atelier do artista, tão cheio de tantas peças, esta inspirou este poema. Outras... outros, poemas também. Gosto de inspirações assim, Miriam,onde posso dar largas às palavras, soltá-las... Aqui, neste espaço do Cutileiro, soltei-as e deixei que dançassem com as peças. Depois trouxe-as para casa e roubei-lhes o sentido. Construí poemas. As fotos são o apoio físico... O artista aqui venera o corpo o sentido de desejo de amor...
A arte pode ser transcendente, ou limitativa se não tivermos como ou por onde apreciá-la. Há peças em que não sabemos "entrar". Logo, nos limitam a capacidade de sentir. Não as do Cutileiro.
Um beijo Miriam e obrigada por suas palavras.

mariabesuga disse...

LAURA
Laurinha eu falo com as pedras sim... e com as flores e bichos... e sózinha... Falo, pronto!... E não é por não ter com quem falar mas porque há momentos de conversa interior que precisamos falar só connosco ou com quem simplesmente ouça o que é a mesma coisa...
A minha sensibilidade, Laurinha é fruto do renascimento a que me dou direito sempre que sinto precisar. Ou quando me permito. Entro em mim... e renasço... saindo para mim e para quem está comigo em pleno.
São processos que não se explicam, Nina das résteas. E tão intimistas... por isso mesmo não se explicam...
Beijinhos nossos daqui para ti.

mariabesuga disse...

GRAÇA
Ah Graça Obrigada pelas palavras. Elas próprias... esculpidas da sua sensibilidade para apreciar... É esse estado de quem aprecia que faz a pureza do meu espaço.
Beijinho

mariabesuga disse...

VIEIRA CALADO
Ora meu amigo nas pedras para além de nós a alma de nós que fica num ou noutro registo. O corpo é só o suporte e nada vale. Somos de dentro...
Obrigada
Um beijo

mariabesuga disse...

OSVALDO
Das pedras que deixarmos, outros construirão castelos...
À terra voltaremos sim meu amigo. Voltaremos carne da carne que fomos vida para que a terra consuma... Voltaremos pó do pó que sobrámos para que a terra se alimente... Voltaremos!...
Um beijo Osvaldo

mariabesuga disse...

LILI LARANJO
Passaste Lili! Ficou a luz do teu beijo e o perfume das tuas palavras sempre tão bonitas como me pareces tu.
Em reticências nos aproximamos, nos faremos maiores...
Obrigada minha querida
Um beijinho

mariabesuga disse...

PATIXA
Minha menina Patixa que bom que vieste. Gosto de te saber pelos meus lugares. Tu sabes!... mas o teu tempo...
Grande o poema porque a peça pedra do Cutileiro a isso obriga. Ou nada... Mas valem as palavras. Já falei aqui mas tu sabes melhor que ninguém que gosto de inspirações assim para construir os meus escritos. Vale o que sinto se puder ao outro lado fazer chegar, então se no todo, essa sensação de plenitude entre o meio e o fim. Mesmo que, como neste caso, mais não seja que corpo pedra que a alma deixou para trás. Eu tentei devolver-lha, à alma, com este poema. Consegui?!...
Bjokinhas pa ti

O Profeta disse...

Mas os golfinhos continuam felizes
A cavalgar ondas de madrepérola
A Lua sorri tristemente e pensa
Haverá alguém mais perverso do que ela?
Haverá?! Há sempre uma deusa perdida
Nos labirintos da contradição
Há sempre alguém que usa a palavra amor
Soprando doce veneno ao coração

Boa semana


Doce beijo

Je Vois La Vie en Vert disse...

Querida Girassol,

Lembrei-me logo das palavras do fernando Pessoa : "Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...".
Podemos sempre utilizar o que sobra !

Tenho um desafio no meu blog. Queres participar ?
Não pretento ser poetisa mas gosto às vezes de colocar algumas rimas provavelmente porque gosto da música...
Escrevi algumas palavras em francês e proponho-te de traduzi/adpatá-las em rimas portuguesas. O que achas ?

Beijinhos

Verdinha

Ana Paula Motta disse...

Parabéns pelo espaço, passei para retribuir a visita.

Paula Raposo disse...

Adorei o teu poema!! Lindo! Beijos.

Fragmentos Betty Martins disse...

.__________querida Maria Besuga




Cutileiro_____________o homem que “acaricia” o mármore com o seu olhar de mestre

conhecidas as “meninas de Cutileiro” assim eram chamadas um tanto ironicamente ________talvez seja a sua obra mais famosa – e concerteza absoluta a mais desprezada por alguns (uns tantos senhores que se julgam entendidos) que nada sabem! o costume!!!





________minha querida. o poema está deslunbrante


é.o.corpo.a.pedra


_______as palavras_____vida


que respira__________[...]










beijO______ternO

isabel mendes ferreira disse...

o.b.r.i.g.a.d.aaaaaaaaaaaaaaaaaa!






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amei o que acabei de receber.


beijo.

DE-PROPOSITO disse...

ficou-Te o corpo sobrado
-----------
As estátuas!... Uma forma de perpetuar o corpo.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel

lili laranjo disse...

Deixo um beijinho


FIM


É o fim da festa…
Tudo terminou…tudo acabou…
Festa e foguetes estão calados…
As canas espalham-se pelo campo…
Os risos pararam…
O baile também terminou…
A festa foi linda…
A festa foi descoberta…
Descoberta de muita, muita coisa…
De muita alegria…
De muito amor, e também de desamor…
Mas as luzes apagam-se…e onde havia alegria…
Ficou silêncio…
Silêncio e vazio…
E eu sinto que aqui… neste lugar…
Houve festa e alegria…
Mas acabou, e…
Ao olhar…nada se vê…
…Apenas eu sei …
Que estive lá.
Que descobri muita coisa…
E que posso continuar a recordar…

16/6/05
Lili Laranjo

mariabesuga disse...

PROFETA
É preciso que saibamos fazer da nossa felicidade o "sêlo" do nosso deslumbramento.
Mas os golfinhos vão continuar sempre a ser mais felizes que nós... Eles não sabem de perversidade e usam o sentido do amor como amor e pronto.
Um abraço e obrigada pela passagem por aqui.

mariabesuga disse...

JE VOIS LA VIE EN VERT
Querida Verdinha
Eu também vou guardando as minhas pedras. As do caminho, as no sapato, as que me atiram... Sabes lá! Nem me ponho para aqui a desfiar que é muito feio. ;)
Mas guardo todas sim que nos fortalecem. O nosso castelo somos nós na mais ou menos energia que consigamos para ultrapassar tudo de menos bom que nos vai acontecendo.

Olha que já fui ao teu blog ver do desafio. Agora já deve ser tarde mas tirei, salvo seja, o poema em francês e já comecei a fazer a minha tradução. Sabes que eu de línguas não sou nada de quase nada. Percebi o espírito da coisa, digamos, e a minha "tradução" terá a ver com o sentido. Não sei se num poema até não será melhor... Pelo menos essa desculpa safa-me um bocadinho.
Beijinho Verdinha e quando receberes a minha participação acusa-a por favor.

mariabesuga disse...

ANA PAULA MOTTA
Obrigada!
Se puder apareça sempre
Um abraço

mariabesuga disse...

PAULA RAPOSO
Adorares é excessivo, Paula. Vindo de ti é um elogio e tanto e fico feliz por isso.
Um beijo

mariabesuga disse...

FRAGMENTOS BETTY MARTINS
Betty, conhecer o Cutileiro foi um privilégio. Estar de perto com todas as peças acabadas e em construção e o que sobra de algumas foi uma sensação de conquista. Ele é "o Mestre". Mas é o Homem que nos recebeu e nos levou pelo atelier em conversa aberta deixando espaço para voltarmos. Falou, explicou, perguntou, enfim... conversou e foi muito bom. Deixou-se fotografar e às peças... Para esta, de mim, nasceu este poema "parido" quase ali no instante.
Um beijo Betty e obrigada.

mariabesuga disse...

ISABEL MENDES FERREIRA
...
de nada Isabel
o meu bom apetecimento sempre!...
...
é tããão bom gostar de gostar...
um beijinho

mariabesuga disse...

DE PROPOSITO
Ficou deste corpo de pedra o resto qual restolho em fim de seara.
Obrigada Manuel por passares por aqui.

mariabesuga disse...

LILI LARANJO
...
Ou o recomeço, Lili.
Pode acontecer do processo de regeneração o recpmeço da vida e passar o (so)riso a ser muito mais resplandecente.
Pode, não pode, Lili?!...
Eu quero que sim!!!...
O meu beijinho para ti minha querida